24 de abril de 2015

Eu sei bem

Texto escrito em conjunto com a Thaysa, do Seria Você Se Não Fosse Eu.


Confesso que esses últimos meses foram exatamente do jeito que eu queria: completos. Sabe quando você consegue fazer exatamente tudo o que você tinha em mente e ainda mais? Certas coisas que me aconteceram sequer passaram pela minha cabeça de que um dia iriam acontecer. Quando é que eu imaginaria que uma pessoa como você entraria na minha vida e faria um estrago desses? Acredito fielmente na teoria de que tudo acontece por algum motivo. Talvez eu seja o seu.

Diante de tudo isso que anda acontecendo, eu não tinha tempo nem de pensar nos pequenos problemas que continuavam a me assombrar. Um exemplo deles é a minha insônia. Fazia tanto tempo que ela não me pedia companhia que eu cheguei a ficar assustada com aquele chamado um pouco insistente demais. Mas eu até posso entendê-la, porque tem noites que são chatas de passar sem a sua companhia e sem o toque do seu corpo no meu. E é por essas e tantas que não nego essa companhia que beira entre o bom e o ruim.

Eu sei bem que não é legal todas as vezes em que discutimos por coisas banais. Tem algumas que chegam a beirar o ridículo, que até somos obrigados a rir de tudo depois. Sabemos que alguns dias são mais difíceis que outros e que alguns filmes que assistimos durante os finais de semana não serão como você imaginou. Alguns vão ser, sim, de comédia romântica e eu não vou me importar nem um pouco caso você comece a rir mais de mim do que da história em si. Essas partes do relacionamento fazem parte de todo o nosso contexto.

Terão dias que eu não irei compartilhar tudo com você e vou querer ficar quieta no meu canto. Mas terão outros dias em que irei acordar e sem mesmo me levantar, você será a primeira pessoa pra quem irei ligar. Você conhece os meus piores defeitos e não te julgo por isso. É que eu sou meio transparente assim mesmo e não vejo problema algum em me preocupar com assuntos que não são muito meus. Eu ainda tenho medo de não ser responsável o bastante para manter o inconstante e misterioso amanhã de pé. Mas, vou te contar um segredo: é bem mais fácil de lembrar se você souber não se esquecer de tudo isso que já vivemos até aqui. 

Eu meio que cansei de imaginar os meus sonhos realizados, até porque eu prefiro o nosso hoje e nada mais além dele. O meu mundo chegou num ponto onde ele gira inteiramente em torno do seu. Então é nisso que vou me apoiar. E é nisso que você irá se apoiar também. Eu sei bem.

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20 de abril de 2015

Sobre ter a alma cheia de solidão



Já faz muito tempo que essa cidade não é a mesma. Logo eu, que vivia a caminhar pelas ruas desertas segurando o meu velho e bom copo de uísque na mão, percebi de imediato que elas estavam um pouco tortas e sem direção. Não é algo normal parar no meio da solidão e perguntar: "ei, tem alguém aí?". Não é normal porque você já sabe a resposta. Não é normal porque você está tentando sabotá-la com o pensamento de que o dia sempre cura as dores que a noite deixou. Mas não é bem assim.

Já faz muito tempo que venho tentando te dizer algumas palavras meio sem jeito e meio sem nexo. Procuro a coragem num gole de vodka, mas quando consigo retê-la, a engulo junto com toda aquela bebida. Talvez você não tenha percebido, mas ontem a noite enquanto você dormia, os sinos badalaram exatamente a meia noite. O som foi tão estridente quanto o barulho do silêncio que carrego aqui dentro. Mas, assim como eu não consigo acordar para o verdadeiro motivo da vida, você também não acordou.

Já faz muito tempo que o mundo está em chamas, onde as labaredas atravessam vários campos gerais sem previsão de quando irão se apagar. Acredito que elas querem dizer alguma coisa com essa dança que insistem em fazer pelo céu negro da cidade. Talvez sejam as mesmas palavras que venho ensaiando em frente ao meu espelho quebrado que há na parede do meu quarto. Talvez seja apenas um alerta para que eu pare de me preocupar tanto com o passado - ou com o presente - se já nem o meu futuro presta.

Já faz muito tempo que não encaro a vida da maneira correta, sempre arranjo alguma desculpa para tentar fugir dela. Uma vez tentei suicídio, noutra levei um tiro. Nenhuma delas fez com que eu percebesse que os dias passam tão rápidos como num piscar de olhos, tanto é que continuo caminhando nessas ruas tortas e sem direção e mal consigo permanecer em pé nessa eterna rejeição.

Já faz muito tempo que eu vejo tudo se transformando em pó. Primeiro os meus pais, depois a minha mulher. Até o meu filho o tempo levou, sem dó e sem piedade.  Foi pensando nesse meu jeito miserável de ser que o tempo resolveu me punir por tudo o que já fiz até aqui. E o tudo se resume em uma palavra, quatro letras: nada.

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11 de abril de 2015

Eu só queria um lugar para ficar



Quem diria que um dia eu estaria nessa situação novamente, não é mesmo? Logo eu, que prometi a mim mesma que não iria mais sofrer por pessoa alguma. Mas o meu mundo acabou girando mais do que deveria que cheguei a ficar tonta e a cair. Eu não acho isso justo, sabe? Ter que me levantar dessa queda sozinha, pelo simples fato de você ter me virado as costas para sair pela porta dos fundos da minha casa e pela da frente em meu coração. Até parece que junto com a tua ausência, instalou-se uns pensamentos bem estranhos aqui na minha mente.

E não, isso não é legal. Porque eu cheguei a mudar o que eu era para ser o que sou hoje. Eu era de sair com as minhas amigas simplesmente por sair, sabe? Pra curtir a noite, o dia, o momento, seja qual horário fosse. Hoje? Hoje eu imploro para que me convidem indiretamente a ficar em casa, na minha, quietinha. Antigamente eu apreciava uma bebida vez ou outra. Hoje a minha maior companhia é esse copo de conhaque que está em minhas mãos. Não que eu beba de um jeito abusivo, mas pelo menos ele deixa a solidão um pouco mais sofisticada. Será?

Veja só, meu bem, eu que não fumo, to louca pra dar uma tragada só pra sentir algo penetrando em mim e me dando algum prazer nessa vida que você foi capaz de me tirar também. Eu ainda não entendo os seus motivos para ter me afastado de você dessa maneira. Sempre acho que hora ou outra você vai bater aqui na minha porta pedindo por perdão e pra voltar. E eu, boba que sou, iria aceitar. Só que a gente nunca sabe qual é a hora certa, mas a porta sempre estará aberta.

Eu não sei mais o que fazer diante de toda essa bola de neve em que você me deixou. Além dessa cidade já ser fria, parece que você fez questão de me congelar um pouquinho mais. Será que você não sente nem um pouco de saudade? A gente era tão bom juntos, será que nem isso você considera? O vazio já está grande demais em meu peito, eu preciso de um pouco de carinho pra ver se ele diminui um pouco. 

Eu sei que nem posso te pedir isso mais, mas... será que posso ouvir, ao menos pela última vez, o som da sua voz? É que a noite tá escura demais e eu não sei a que horas ela vem me consumir por completo.

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7 de abril de 2015

O errado que deu certo

Texto escrito em conjunto com a querida Maria, d'O Criado Mudo.


Sempre fez muito frio nas primeiras semanas de agosto. Eu e meus colegas em hipótese alguma perdíamos o costume de sair da faculdade e ir para o bar; foi em uma dessas noites que eu encontrei você. Minha camiseta branca já estava com algumas manchas de sangue, eu precisava comprar quaisquer coisas que pudesse utilizar para fazer um curativo e você, coincidentemente, estava fechando as portas da única farmácia aberta até então. Minha falta de sorte e meu desespero eram tão grandes que, por impulso, acabei apontando o meu dedo do meio – que por acaso era o que estava cortado – para você.   
  
No dia seguinte a esse lamentável acontecimento, preferi mudar o caminho de volta para casa a ter que encarar o seu rosto furioso. Caminhei apressado por ruas desconhecidas e a cada esquina que cruzava enxergava o seu rosto. Maldito seja esse sentimento que se chama culpa e que me fez dar meia volta e mudar meu destino a mesma farmácia que protagonizou o nosso primeiro encontro. Você não quis me ouvir; preferiu proferir uma montoeira de palavras que fizeram suas bochechas avermelharem. Eu não sentia raiva.   
  
Não dormi naquela noite. Tudo o que passava pela minha cabeça eram flashes dos poucos e trágicos minutos em que estive com você e como poderia me redimir. Eu não sabia absolutamente nada sobre você, então concluí que um buquê de rosas, além de clichê, seria muito previsível. Sempre gostei de desafios, porém dessa vez não poderia arriscar. A sorte nem sempre está ao meu lado.   
  
Você se lembra de quantas vezes me botou para fora sem ao menos ouvir o que eu tinha para falar? Você se lembra de quantas vezes você cedeu? Durante seis dias consecutivos eu te procurei. No sétimo, você cedeu. Foi da boca para fora, mas você cedeu e eu não consegui conter aquele sorriso bobo que estava escondido ali o tempo todo esperando a hora certa de aparecer. Eu sei que você lembra.   
  
Se eu estava agindo como um perseguidor maníaco? Talvez. Eu só peço, por favor, que você me entenda. Eu só queria te surpreender e, pelo jeito, consegui. Afinal, se não o tivesse feito, você não estaria me ouvindo agora. Sei que essas não são as palavras mais bonitas que já ouviu na sua vida, mas provavelmente são as mais sinceras. Sei que não usei trechos das músicas que você tanto ama, mas é por que detesto cada uma delas e você sabe disso.   
  
São nessas diferenças tão absurdas que se encontra toda a beleza do nosso amor meio ao contrário. Os beijos não dados e os bom dia ditos de má vontade me fazem perceber o quão real é tudo isso.   
  
Minha camiseta branca ainda tem manchas de sangue e hoje eu te espero na porta da farmácia todas as noites às vinte e uma horas em ponto para discutirmos sobre tamanho desprezo pelo meu desleixo, sobre o quão estressante foi atender a senhora que compra fraldas geriátricas, sobre o preço do arroz e a minha toalha de banho que continua molhada.  
  
Quando tudo aponta para o lado errado, nós ainda somos capazes de fazer dar certo.  

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