7 de abril de 2015

O errado que deu certo

Texto escrito em conjunto com a querida Maria, d'O Criado Mudo.


Sempre fez muito frio nas primeiras semanas de agosto. Eu e meus colegas em hipótese alguma perdíamos o costume de sair da faculdade e ir para o bar; foi em uma dessas noites que eu encontrei você. Minha camiseta branca já estava com algumas manchas de sangue, eu precisava comprar quaisquer coisas que pudesse utilizar para fazer um curativo e você, coincidentemente, estava fechando as portas da única farmácia aberta até então. Minha falta de sorte e meu desespero eram tão grandes que, por impulso, acabei apontando o meu dedo do meio – que por acaso era o que estava cortado – para você.   
  
No dia seguinte a esse lamentável acontecimento, preferi mudar o caminho de volta para casa a ter que encarar o seu rosto furioso. Caminhei apressado por ruas desconhecidas e a cada esquina que cruzava enxergava o seu rosto. Maldito seja esse sentimento que se chama culpa e que me fez dar meia volta e mudar meu destino a mesma farmácia que protagonizou o nosso primeiro encontro. Você não quis me ouvir; preferiu proferir uma montoeira de palavras que fizeram suas bochechas avermelharem. Eu não sentia raiva.   
  
Não dormi naquela noite. Tudo o que passava pela minha cabeça eram flashes dos poucos e trágicos minutos em que estive com você e como poderia me redimir. Eu não sabia absolutamente nada sobre você, então concluí que um buquê de rosas, além de clichê, seria muito previsível. Sempre gostei de desafios, porém dessa vez não poderia arriscar. A sorte nem sempre está ao meu lado.   
  
Você se lembra de quantas vezes me botou para fora sem ao menos ouvir o que eu tinha para falar? Você se lembra de quantas vezes você cedeu? Durante seis dias consecutivos eu te procurei. No sétimo, você cedeu. Foi da boca para fora, mas você cedeu e eu não consegui conter aquele sorriso bobo que estava escondido ali o tempo todo esperando a hora certa de aparecer. Eu sei que você lembra.   
  
Se eu estava agindo como um perseguidor maníaco? Talvez. Eu só peço, por favor, que você me entenda. Eu só queria te surpreender e, pelo jeito, consegui. Afinal, se não o tivesse feito, você não estaria me ouvindo agora. Sei que essas não são as palavras mais bonitas que já ouviu na sua vida, mas provavelmente são as mais sinceras. Sei que não usei trechos das músicas que você tanto ama, mas é por que detesto cada uma delas e você sabe disso.   
  
São nessas diferenças tão absurdas que se encontra toda a beleza do nosso amor meio ao contrário. Os beijos não dados e os bom dia ditos de má vontade me fazem perceber o quão real é tudo isso.   
  
Minha camiseta branca ainda tem manchas de sangue e hoje eu te espero na porta da farmácia todas as noites às vinte e uma horas em ponto para discutirmos sobre tamanho desprezo pelo meu desleixo, sobre o quão estressante foi atender a senhora que compra fraldas geriátricas, sobre o preço do arroz e a minha toalha de banho que continua molhada.  
  
Quando tudo aponta para o lado errado, nós ainda somos capazes de fazer dar certo.  

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