31 de agosto de 2013

Saudade

Essa tal de saudade é complicada.
Primeiro se instala, como quem não quer nada.
Depois incomoda, como se dissesse à você que ficará ali por um bom tempo.
Mais tarde te aprisiona.

E você
fica
ali
pra sempre.

19 de agosto de 2013

Anjo

Em uma noite qualquer pode acontecer muita coisa. Um exemplo? A história que vou contar agora.

Era julho de 1982. A rua estava deserta e a única companhia que tinha era a minha própria sombra projetada através dos postes de luz. Eu caminhava tranquilo e sem direção, a fim de descobrir um lugar ao qual eu pertencesse. Todo mundo quer pertencer a algum lugar e comigo não era diferente.

Já fazia alguns dias que não sabia mais o que fazer. Meus pais haviam morrido uma semana antes em um trágico acidente de carro. Eu estava perdido, não vou negar. Mas o que eu queria mesmo era acabar com aquela dor. Não gostava do fato de saber que, quando eu acordasse, não teria mais o sorriso de minha mãe para espantar meu mau humor matutino diário. E eu não gostava, também, do fato de ter que passar as próximas datas festivas sem escutar as piadas (sem graça, diga-se de passagem) do meu pai. É, a vida, às vezes, é estranha. E injusta.

Acostumei-me a fazer o mesmo trajeto todas as noites, sempre no mesmo horário. Sei onde é que estão os melhores bares da região, com as melhores formas de consolo que possam existir. Fora a cerveja, garotas fazem um bem danado à mim. Não sei bem por que, mas deve ser aquele jeito que só elas tem. Sabe, o de melhorar qualquer coisa. Com uma palavra, um carinho, um beijo ou... bom, uma trepada.

Certa noite conheci uma pequena. Mas não uma pequena qualquer, era a minha pequena. Ela tinha um jeito único de ser, sabia cuidar de mim como ninguém nunca soube. E eu... eu gostava disso. Sentia falta de ter alguém me esperando em casa depois de um dia cansativo que normalmente levava no jornal. E eu chegava, e ela me abraçava e me beijava e me amava. E ela me vivia, e eu a despia e a fazia minha.

E era dessa forma que a gente levava os nossos dias. Éramos leves, tranquilos, não tínhamos medo de qualquer coisa que estivesse por vir. Era eu por ela, ela por mim. Do começo até o final. Fizemos muitas coisas inimagináveis, coisas que, sinceramente, não preciso escrever aqui. Sabe como é, intimidades. Mas uma coisa eu posso afirmar à vocês, meus caros: eu não queria ela longe de mim de jeito algum. Ah, não mesmo.

Mas, em uma noite de lua cheia e alguns copos a mais no organismo, algo realmente impactante aconteceu. Nós estávamos voltando de uma festa. Aqueles tipos de festa que acontecem uma vez no ano e que não dá pra perder. Pois bem, daquele dia só me lembro de uma luz. E do baque. E, é claro, da sensação de perder mais uma pessoa.

Mais uma vez a vida foi injusta. Não por culpa dela. Muito menos por culpa minha. Ela simplesmente... foi. Conseguiu tirar de mim aquilo que mais me importava. Mas agora já não posso fazer muita coisa. Posso dizer que aqueles 36 meses que passei ao lado dela foram os melhores meses de toda a minha vida. Mas acabou.

E hoje eu sei que todas as noites ela reza por mim. E eu, todas as noites, olho por ela.

(...) Não importa pra onde olhar, sei que você vai estar aqui.

6 de agosto de 2013

Ele, ela

Ele era sonhador demais. Pensava que o mundo poderia ser exatamente do jeito que ele quisesse. Tinha medo do que estava por vir. Desde pequeno tinha um único objetivo: o de fazer as coisas acontecerem. Mas muitas portas se fecharam diante dele. E, a cada vez que isso acontecia, pensava que de nada mais adiantaria tanto esforço. Chegou a pensar que qualquer tentativa seria em vão. Mas tudo bem, continuou sonhando.

Ela fazia o tipo popular. Cobiçada pelos rapazes desde o tempo de escola, sabia aproveitar a vida que levava. Do jeito certo? Provavelmente não, mas aproveitava e era isso que importava. E mesmo com tudo isso, sentia que lhe faltava algo. Não sabia o que ou quem, mas sentia aquele vazio apertar cada vez mais. Resolveu mudar, então, o jeito de encarar as coisas. Passou a se preocupar um pouco mais e a dar valor para o que realmente era necessário. Não deu muito certo, pois o vazio continuava lá, intacto. Talvez não tenha se dedicado totalmente, pensou ela. Mas continuaria tentando.

Ele tinha medo de ser feliz, mas queria mudar isso. Sabia exatamente onde deveria ir em busca da sua própria felicidade. Foi.

Ela não tinha tanta certeza do que precisava ser feito para preencher o espaço que permanecia em seu peito. Tinha um vago achismo, mas certeza não. Ficou.

Ele sempre era o ridicularizado no tempo de escola, o diferente que sempre incomodava. Não entendia o porquê, sempre foi estudioso, muito na dele, não incomodava ninguém. Talvez fosse por isso, vai saber. As pessoas são estranhas, pensou ele. Mas garantiu que nada mais iria lhe atrapalhar.

Ela trocou de companhias, mudou de hábitos, conheceu novas pessoas e já nem lembrava mais de quem costumava ser. Pensava em se casar, fez planos de um dia viajar. Tudo a seu tempo e do jeito que tem que ser.

Ele começou a se socializar mais, amigos conquistou e mulheres namorou. Porém, nenhuma ainda tinha lhe chamado a atenção inteiramente. Queria encontrar, sabia que algum dia algo lhe surpreenderia.

Se encontraram em uma certa manhã. Ele indo para o trabalho, ela para a sua corrida matinal de todos os dias. Mesmo sendo rápida, a troca de olhares entre os dois comprovou duas coisas: ela preencheu o vazio e ele teve toda a sua atenção voltada à ela.

Naquele momento eles souberam que tinham se completado.
E o final feliz está logo ali. ♥