Ilustração de Juliê Caroline |
Texto publicado originalmente na Revista Subversa.
Lembro-me de me refugiar por uns dias naquela praia em que conheci você. Lembro-me de ter escrito várias vezes o seu nome na areia e de observar as ondas vindo na direção dele só para ter o prazer de apagá-lo naquele vai e vem infinito.
Num misto de melancolia e sofreguidão, era como se o mar, com toda sua imensidão, viesse ao meu encontro apenas para me alertar de que tudo o que vivi teve um fim. Tudo o que um dia eu ousei em sonhar se estilhaçou ao chão com o baque da realidade. E não há motivo para tentar encaixar os caquinhos que o vento já levou.
Aquelas cartas que escrevi estão todas inacabadas. São várias e, cada uma delas, traz um sentimento diferente. O envelope não está preenchido pois percebi que nem o seu endereço eu sei mais. Talvez seja por isso que essas cartas nunca chegaram ao seu destinatário final. E eu só não joguei todas no lixo por receio de algum dia precisar delas.
O som da sua voz ainda me visita na calada da noite, a sua silhueta já está estampada nas sombras que inundam as paredes do meu quarto e o silêncio soa melhor do que qualquer música que tenha embalado o nosso amor. Os lugares já não são mais os mesmos e os livros que você deixou na estante já não me chamam mais atenção.
Pudera eu ficar aqui estagnado nesse mar de desilusões, mas assim como um marujo abandona o seu posto quando avista uma tempestade mais a frente, é preferível naufragar em águas desconhecidas do que permanecer eternamente nessa solidão a dois.
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