1 de novembro de 2013

Hell o win

É noite de Halloween. Crianças andam pra lá e pra cá pedindo doces de porta em porta. Não tenho nada para lhes oferecer, apenas um pacote de cigarros pela metade. Acho que não será muito bem vindo pelos pais dessas pequenas criaturas inocentes. Sinto saudade dessa minha inocência. A minha doce e saudável inocência. Quando crescemos, nada mais volta a ser como era antes. Acontece, são coisas inevitáveis.

Tem um menino ali que me lembra muito de quando eu era menor. Miúdo, meio tristonho e deslocado no meio de tantas crianças. É perceptível que está fazendo o que na verdade não quer. A fantasia? Múmia (ha-ha). Tropeçou na faixa que encobre seu corpo. Caiu. Fui até ele e o ajudei a levantar. Ele agradece e corre em direção aos colegas. Meio desengonçado, ainda tropeçando. Percebi que o que menos queria era ficar perto de um cara desconhecido e meio estranho. Já até acostumei, tá tudo bem.

Lembro-me de um ano em que minha mãe me vestiu de vampiro. Desenhou olheiras, comprou dentadura falsa e até mesmo aquelas bolsas de sangue artificial. Nunca entendi o porquê daquilo tudo. Mas era mãe, sabe como é, a única coisa dessa vida que precisamos fazer sem pestanejar é obedecer a sua mãe. Segundo ela, eu ia atrair várias vampirinhas. Qualé, mãe, eu já tenho 15 anos, posso atrair bem mais do que sugadoras de sangue - pensei.

O tempo foi passando e, a cada ano, me transformava em um monstro diferente. De vampiro fui pra fantasma, de fantasma fui pra lobisomem e de lobisomem fui pra zumbi. Nunca gostei dessas coisas. Nunca tive medo também. Só aceitava em participar dessa data comemorativa pelo simples fato de todas as crianças e adolescentes do bairro estarem por ali, zanzando de porta em porta implorando por gostosuras ou travessuras. Pelo menos em um dia do ano eu não me sentia o garoto deslocado fazendo coisas estranhas diante das pessoas.

Hoje se me perguntarem se levo a sério a festa do Halloween, digo que não. Mas se mudarem a pergunta para saber se levo a sério esses monstros que a garotada tanto se veste, respondo que sim. Conforme o tempo foi passando, adquiri um certo medo de monstros. Mas não vampiros, fantasmas, lobisomens ou zumbis que tanto interpretei na minha infância. O monstro que mais temo é bem pior do que tudo isso. Ele está bem mais próximo da realidade do que esses citados.

Esse monstro não espera o dia 31 de outubro para atacar. Ele ataca todos os dias. Em qualquer lugar. A qualquer hora. Esse monstro não tem nome, não tem tamanho. A cada dia ele pode estar camuflado de um jeito. E, disso, eu tenho muito medo. Afinal, os monstros que mais tememos encontram-se dentro de nós mesmos.

4 comentários:

  1. Nada como mesclar "fantasia" e "realidade" com um toque "autobiográfico" (tá na moda, né? =pp)

    Temer é bom, nos impede de fazer loucuras insanas. Agora, ser guiado pelo medo? Pelo simples fato de se impedir de viver pelo medo de tentar?

    Faço um convite, aproveite o momento da morte para matar tudo, inclusive o medo. ^^

    Afinal se todos tem que morrer, porque não ele também?

    Parabéns pelos textos. Keep the feeling!!

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    1. Concordo contigo, chega uma hora em que o medo tem que morrer também. E eu to indo nesse caminho, já planejei boa parte dos meus próximos anos. E se não der certo o que to querendo fazer, pelo menos eu tentei. haha

      Obrigada pelos elogios e pela força! :)

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  2. Isso aeeee.

    Fico feliz em ver as pessoas se (auto)conhecendo e se permitindo ser elas mesmas, mesmo que muitas vezes não seja do mesmo né? =ppp

    Planejar é bom, ajuda a focar a mente e acalmar o espírito. Todavia (posso estar errado, obviamente ^^) acredito que viver é o mais importante, mesmo que nossos planos não deem certos ou que a vida nos troque de caminhos hahahaha.

    Contudo sempre inventamos milhões de coisas, sendo que o mais simples seria pura e simplesmente, viver, não? =]]

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    1. Sim!

      Tomei como base a viver tudo aquilo que é possível, fazer tudo o que sinto vontade da melhor maneira. Se deu certo, deu. Se não deu... eu tive a experiência, serão histórias pra contar.

      A vida tá aí, não podemos desperdiçá-las.
      Essa é a meta pra seguir daqui pra frente! :)

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