2 de outubro de 2013

Papo de bar (ou algo semelhante)

― Meu café está amargo.
― Como?
― Meu café. Está. Amargo. ― falou pausadamente, sem nenhuma expressão em seu rosto.

Sem entender nada, ela trocou-lhe o café. Por desencargo, deu um gole nele para ver se realmente estava amargo. Não estava.

― O senhor gostaria de mais açúcar?
― Por favor.

Ela, então, passou o açucareiro para aquele rapaz que transparecia tristeza. Sorriu. Não obteve uma resposta. Voltou aos seus afazeres.

― Com licença...
― Sim?
― Poderia me servir mais um café?
― Claro. Mas com uma condição.
― Qual? ― ele perguntou desconfiado.
― Me responda: há quanto tempo sua ex te deu um pé na bunda?

Ele arregalou os olhos. Não fazia a menor ideia de como aquela simples garçonete sabia do que estava acontecendo. Abriu a carteira e deixou sobre o balcão uma nota de dez.

― Eu preciso ir. Fique com o troco.
― Espere! ― e pousou sua mão na dele ― Desabafe! Talvez seja isso que está lhe faltando. Sabe, um ombro amigo.

Sem reação, ele tornou a sentar-se. Apoiou sua cabeça entre as mãos e disse:

― Um mês. Ela me trocou. Não sei como e nem por que. Apenas foi embora e...
― E deixou um bilhete em cima do criado mudo dizendo que você merece alguém melhor. Sei como é.

Foi então que, pela primeira vez, fixou a moça nos olhos. Não sabia onde aquele papo ia dar. Mas estava gostando e preferiu arriscar.

― E como você sabe disso tudo? ― questionou, desafiando-a.
― Por quê? Acha que só porque sou mulher não entendo dessas coisas? Também já levei um pé na bunda.
― Não quis te ofender. Só fiquei curioso. Mas se não quiser falar, tudo bem.

Ela respirou fundo. Por fim, disse:

― Não, está tudo bem. É só que faz tanto tempo que não conto isso pra alguém, mas vamos lá! ― respirou novamente ― Era uma vez uma menina boba e apaixonada e um cara canalha e cafajeste. Um dia ele traiu ela e ela descobriu. Fim.
― Uau!
― É.
― Que canalha.
― E cafajeste.
― E você não fez nada?
― Claro que fiz!
― O que?
― Chorei.

Sem dizer nada, colocou suas mãos nas dele. Ficou assim por um tempo.

― O que foi? ― ela perguntou. Estava inquieta.
― Você vai me achar louco, mas... gostaria de te dar um motivo para sorrir.
― Que seria...?
― Você vai ver. A que horas você sai?
― Às nove.
― Às oito e cinquenta e cinco estarei aqui.
― Isso é um encontro?
― Não sei. Talvez. Pode ser. ― e sorriu.

Às vezes a única coisa de que precisamos é de um café amargo.

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