16 de abril de 2012

Quando palavras já (não) dizem

A princípio era uma pessoa normal. Mas quem o realmente conhecia, sabia que ele tinha algo de especial. Ele tinha um dom que poucas pessoas tem: o de escrever. Só que, normalmente, escritores não são levados muito a sério. Em seu caso, as pessoas diziam que ele era muito emotivo. Levava sempre para o lado pessoal. Mas ele não ligava.

Não era lá um dos caras mais bonitos que alguém já viu, mas sempre andava com boa aparência. Tinha um círculo de amizades até que razoável. Era bem sociável e com um ótimo humor. Ponto positivo. Mas quando colocava em mente que iria escrever algo que o tornaria conhecido mundo a fora, fechava-se em seu próprio mundo e ai de quem tentasse algum tipo de conversa com ele.

Certa vez, no meio de uma crise de criatividade, resolveu caminhar pela rua. Com mil pensamentos na cabeça – mas nada concreto – não percebera onde tinha acabado de entrar. Quando finalmente se deu conta, estava numa mesa de bar, com um copo de cerveja na sua frente, um cigarro aceso entre seus dedos e uma bela moça lhe acompanhando. Mal pôde acreditar. Aquelas coisas não aconteciam com ele. Não a parte da cerveja e do cigarro, mas sim a da moça. “Tira essa cara de bobo do rosto. Não, não fale nada. Espera. Ela vai falar com você.”, pensava o rapaz.

— O bar estava cheio e, como a sua mesa estava com um lugar disponível, sentei aqui mesmo. Você não se incomoda, né? Eu não vou te atrapalhar. É que às vezes eu venho aqui apenas pra fugir de tudo, tomar uma cerveja, sabe como é. Aliás, me chamo Ana.
— Gabriel. E não, não é incômodo nenhum. Fique o tempo que precisar. — e sorriu.

Conforme iam conversando, mais ele a achava interessante. Conversaram sobre todo tipo de assunto que pode se conversar. Filmes, músicas, livros, até mesmo histórias inimagináveis ocorridas com eles mesmos.

— Mas então, o que você faz da vida? — pergunta Ana.

“Pergunta crucial, podia me perguntar tudo, menos isso. Quem ela pensa que é? Calma, calma, vai dar tudo certo.”.

— Bom, acredite você ou não, eu escrevo.
— É escritor então? Hm...

“Hm? Que coisa mais...vaga! Mas calma, Gabriel. Relaxa, continua a conversa.”

— Sim. E estou no meio de um projeto. A propósito, acabei entrando nesse bar justamente pelo mesmo motivo que você.
— A cerveja? — e riu.

Ele não esperava essa resposta e a acompanhou na risada.

— É, também. Mas principalmente pra fugir. Sabe, eu não sou desses que escreve coisas planejadas. Eu preciso sair, vivenciar, pra daí sim escrever. Preciso fugir. Das pessoas e até de mim mesmo.
— Eu, com certeza, não ia querer fugir de você.

E a conversa, dessa forma, foi fluindo. De palavras, passou para um contato visual. Um contato profundo, sincero. E, naquele momento, o rapaz apenas desejava que ela topasse em ir com ele pra um lugar menor, com mais privacidade. A verdade, é que ele queria deixar, de alguma forma, esse acontecimento registrado. Nem que fosse nas suas palavras. O que, de fato, ele sabia fazer de melhor.

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