7 de agosto de 2016

Intrínseco


O que eu faria se ela voltasse? Sabe que nunca parei pra pensar nisso? Acho que é porque é algo tão irreal que não vale nem a pena pensar sobre. Mas, tudo bem, vamos lá. Se você perguntou sobre isso é porque tem algo aí no meio que precisa ser tratado. To certo? Pois bem.

Cara, ela foi a coisa mais bonita que já tive em minhas mãos. Tão frágil, tão... minha. Ao menos foi. Ao menos era. Hoje eu já nem sei. Juro, não sei como ela está, não sei se continua se cuidando assim como eu cuidava dela. Éramos só nós dois, entende? Então eu fazia meu papel de protetor, cuidava de mim e dela também. E era algo muito bom. Mesmo. Eu me sentia importante ao menos pra alguém. Mesmo que hoje eu tenha minhas dúvidas quanto a isso, eu me sentia importante sim.

Ela me fez sentir aquilo que tanto havia guardado bem escondido em meu peito. Sabe como? Eu já sofri tanto nessa vida, não queria sofrer mais uma vez. Mas lá estava ela, toda linda e pronta pra fazer estrago. Sim, foi exatamente isso que ela fez. Um belo dum estranho. Um maravilhoso estrago. E olha que eu tenho uma certa obsessão em por tudo em seu devido lugar, mas ela... Ah, ela conseguiu entrar e deixar tudo bagunçado mesmo. Não tinha importância, sabe? Desde que estivéssemos nós dois ali, juntos, nada mais importava.

Podia fazer o tempo que fosse, podia aparecer quantos convites fossem, o nosso programa de sexta a noite sempre era debaixo do edredom. As pernas dela confundiam-se com as minhas e assim a gente ficava. A noite toda e o dia seguinte todo também. Quando não emendávamos o final de semana inteiro, né. Aí, você sabe, outras coisas aconteciam também. Mas eu sei que não é disso que preciso falar.

Bom, o que eu faria se ela voltasse? Sinceramente, eu acho que nada. É sério, eu ficaria estático, olhando aquele rosto que tanto amei um dia. Mas saber o que fazer? Não, eu não sei. Um oi talvez. É, um oi. Já é um bom começo, não é? Depois eu talvez perguntasse como estariam as coisas ou até mesmo se o irmão dela conseguiu escrever o livro de ficção científica que tanto quis. Jamais tocaria no assunto nós. Jamais. Não seria justo. Nem comigo e nem com ela. Sabe como é né, duvido que ela não tenha sofrido também com o fim do que fomos um dia.

Sim, eu entendo que nem sempre o eterno se faz concreto, mas sei que fiz eterno enquanto durou. Pode parecer confuso, mas é que essa história, a nossa história, já está impregnada nas páginas da minha vida. É claro que a cada novo dia, novas páginas são escritas. Mas eu não posso renegar, muito menos apagar, o que aconteceu e ficou no passado.

Eu até fico feliz com tudo isso que fiz até aqui. Eu já chorei tanto, já sorri tanto... Já gargalhei até a barriga doer. Sério. São sensações boas que espero que permaneçam em minha vida por muito mais tempo. Que eu morra um dia de tanto rir, mesmo que não seja metaforicamente. Que eu morra um dia sem estar arrependido do que não fiz. Porque eu fiz. Fiz muito mais do que um dia tive em mente. E pretendo fazer ainda mais.

E se o que eu tiver que fazer não inclua ela, meu querido, está tudo bem também. Porque se teve algo que aprendi com esse término foi que de amor ferido não se pode morrer. E tem mais, com ela eu era feliz, mas sem ela eu continuo sendo feliz. De outra maneira, é óbvio. Mas eu sou feliz sim.

O canto dos pássaros, o latido dos cães, a buzineira dos carros... Tudo isso me mostra o quanto o mundo é singular e o quanto ainda tenho pra conhecer e viver. Sem ela, sem ninguém. Só eu e o interior do meu ser.

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* Tem mais texto aqui: https://www.facebook.com/amanhatantofaz :)

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