23 de junho de 2014

Tragédia poética

Uma e cinquenta e três da manhã. Tudo escuro e silencioso. Quem dera se estivesse falando do local onde estou. Mas não. Quando o cérebro não faz o seu papel de esquecer o que passou, o coração toma a frente e faz de mim o que ele quiser. Já nem sei mais o que é deitar para descansar de fato. Então fico assim. Da minha cama encaro o teto e desse jeito espero que algo aconteça. Ou melhor, que não aconteça.

Duas e quarenta e quatro da manhã. Levantei. Caminho lentamente tentando entender o que se passa. Penso. Sorrio. Penso mais. Paro. Meu forte nunca foi esse. Sempre fui lá e fiz. A questão é que agora já não posso fazer o que de fato quero. No fundo, nem eu sei se ainda quero. Na verdade, te quero.

Três e vinte e dois da manhã. Meu cigarro acabou. Nessas horas vai ser até difícil achar algum lugar para se comprar outro maço. Deixa assim. É até melhor. Tantas vezes já tentei acabar com a minha ansiedade de outras maneiras. Mas me falta algo entre os dedos. Pior. Me falta algo entre meus braços. E algo pra ocupar a cabeça e encher o coração.

Quatro e trinta e sete da manhã. Vinte e um minutos. Exatos. Foi o tempo que meus olhos permaneceram fechados. Se descansei o suficiente eu já não sei. O que sei é que nesses vinte e um minutos - exatos - eu consegui esquecer de você. Ponto pra mim. Não é um grande avanço, mas já é algum. Ao menos é o que minha mente afirma. Com a cabeça apoiada em minhas mão, encaro novamente a escuridão ao meu redor. Nela tudo está. Você não está.

Cinco e cinquenta e sete da manhã. Levanto. Preparo um café forte. Amargo. Combina mais. Entende? Um banho frio resolveria um pouco do problema também. Limpar o pensamento. Filtrar as emoções. Mas ainda prefiro um café quente. Um cigarro entre os dedos. Histórias pra contar.

Seis e trinta da manhã. O dever me chama. Na obrigação eu vou. Fingindo que está tudo bem. Ninguém tem nada com isso. Vou na minha. Vou sozinho. Canalizando o que de bom tenho. Eliminando o que de pior carrego. Uma mente vazia. Um coração na mão. Palavras a serem ditas. O mesmo destinatário. Carrego frustrações por aí. Até onde não puder mais ir.

Escondo-me de mim mesmo. Quem sabe assim eu me surpreenda. Um dia igual ao ontem. Até não aguentar mais. Até você não me aguentar mais.

---

Nenhum comentário:

Postar um comentário